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domingo, 30 de janeiro de 2011

Semana de actualização do clero

COMUNICADO FINAL

            Os Presbíteros das Dioceses de Évora, Beja e Algarve, com os seus Bispos, reunidos no Hotel Albacora, Vila Galé, em Tavira, de 24 a 27 de Janeiro de 2011, na semana de actualização do clero, organizada pelo Instituto Superior de Teologia de Évora, sob o tema Crise: desafios e oportunidades, reflectiram e estudaram o momento actual com a colaboração de vários especialistas, tendo manifestado, no final dos trabalhos, as seguintes inquietações e desafios:
  1. Estamos a viver as consequências de uma crise que exige o conhecimento e a reflexão sobre as causas. Não vivemos apenas uma crise económico-financeira, mas de critérios de valores e de mutação de valores no campo da cultura e da comunicação, que conduz a uma rejeição da identidade cristã numa Europa cada vez mais frágil e vulnerável. “O novo imperador Constantino não é cristão”, nem tem rosto; e num ambiente onde as pessoas perdem a sua identidade, receia-se sempre a afirmação da identidade dos outros.
  2. Face a este cenário, a atitude dos cristãos, seguindo Jesus e os seus ensinamentos, principalmente o mandamento do amor ao próximo e a relativização dos bens materiais, deverá ser de esperança, de solidariedade, de subsidiariedade, procura do bem comum, defesa da liberdade e reforço da identidade através da presença e do testemunho, sendo sábios nos julgamentos e caminhando em frente.
  3. O pensamento dos filósofos e sociólogos do séc. XX, especificamente daqueles que escreveram sobre o tema do “Ser ou Ter” e reflectiram sobre o homem no seu contexto social, político, ético e ideológico, levou-nos a reconhecer a prioridade que se há-de dar ao “Ser” na continuidade da experiência cristã que atribui à categoria do “Ser” na sociedade o aspecto fundamental que dá sentido à vida. A “humanidade” do homem está na interiorização do ser, e não como se tem feito crer, na exteriorização do ter. Alguns dos problemas da actual situação em Portugal têm a ver com esta “imposição do ter” em aspectos tão próximos como a “educação formatada”, a teleonomia do sábado” e a “finalidade material da vida”. Numa postura crítica destas situações, contrapomos o espírito das bem-aventuranças na sua finalidade de “Breviário da vida vivida em ser”.
  4. A Encíclica Caritas in Veritate, apesar de não ter como objectivo principal responder à crise actual, fornece critérios, princípios e valores, na linha dos grandes documentos da Doutrina Social da Igreja, nomeadamente da Encíclica Populorum Progressio que, estudados, aprofundados e actualizados, são uma proposta para um desenvolvimento humano integral privilegiando a defesa da centralidade e dignidade do ser humano, do bem comum, da solidariedade e da subsidiariedade.
  5. A crise actual da sociedade portuguesa caracteriza-se pelo desânimo, falta de confiança e alguma angústia. Receia-se que, depois da crise económico- financeira, surjam os problemas da agitação social provocados pelo aumento da pobreza. Infelizmente, constata-se que são poucos os que assumem a causa dos pobres pois os que fazem reivindicações não são os pobres mas os que se sentem lesados nalguns dos direitos ou regalias que possuíam. A Igreja, que já opera através de múltiplas organizações, nomeadamente a Caritas e os Centros Sociais Paroquiais, quer continuar, por meio destas instituições, das comunidades e dos seus movimentos, caracterizados por estarem próximos das pessoas e darem respostas imediatas, a ajudar os que mais precisam, com a experiência que tem ao longo dos séculos. Esta crise desperta também a Igreja para o incremento da solidariedade e para os perigos do consumismo excessivo, suscitando formas mais imaginativas de economia social.
  6. A chamada crise económico-financeira manifesta, para nós, cristãos, a debilidade da pessoa humana e a força sedutora do pecado. As filosofias do Iluminismo apontaram para um optimismo progressista e, juntamente com o Marxismo, fizeram acreditar que o homem, sem Deus, haveria de construir na terra o paraíso, e o resultado que estamos a viver é a falência destes sistemas que garantiam resposta para todos os problemas humanos. A raiz profunda de todas as crises está na ganância e na ambição desmesurada do ser humano.
  7. Mas nós, cristãos, temos, na história da salvação e na experiência da história da Igreja, paradigmas para superar as crises. A história da humanidade é uma história de crises e de superação de crises. E para os que acreditam num Deus que se fez homem em Jesus Cristo, para redimir todas as crises da humanidade, a atitude não pode ser outra senão a esperança de que, também esta situação difícil que estamos a viver, e que tem muitas semelhanças com o tempo em que viveram os apóstolos enviados por Jesus e S. Paulo, há-de ser oportunidade para redescobrir o que mais vale e dar sentido a uma vida autêntica.

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